terça-feira, 16 de junho de 2009

CÉLULAS PAROQUIAIS DE EVANGELIZAÇÃO

Reconhecimento pontifício das células paroquiais de evangelização

O serviço de células paroquiais de evangelização (CPE) criadas na Europa em 1985 por Pe. Pigi Perini da paróquia de Santo Eustorgio em Milão foi reconhecido pelo Pontifício Conselho para os Leigos em 29 de maio em Roma.
Dom Josef Clemens, que presidiu a cerimônia, nos disse o significado deste ato para a Igreja.

Os membros leigos das células paroquiais se reúnem a cada semana e convidam todas as pessoas a participar deste encontro onde eles são capacitados por seu pároco. Um método de evangelização que, para o Pe. Pigi, Presidente do Organismo internacional de serviço das células paroquiais de evangelização, foi proposto de modo universal pela Igreja.

Para o representante francófono deste serviço, padre Arnaud Adrien, o reconhecimento oficial deste serviço é uma prova que demonstra o dinamismo desta proposta.

Sottopancia :
Dom Josef Clemens, secretário do Pontifício Conselho para os Leigos
Pe. Pigi Perini, presidente do Organismo internacional do serviço CPE.
Padre Arnaud Adrien, responsável francófono da CPE.

Dom Clemens: “O reconhecimento pontifício é como uma pausa. Nos detemos, para que a Igreja – por assim dizer – acolha o carisma, o sentido e o método, o modo de evangelizar.
Este é um momento de reflexão e também de aceitação. Ou seja, a igreja acolhe isso como um caminho bom e justo ao qual se pode recorrer. E proporciona também um novo impulso a um serviço ou uma iniciativa para intensificar o caminho iniciado”.

Pe. Pigi: “A aprovação do Pontifício Conselho para os Leigos faz com que esta obra não seja vista como algo meu, mas que agora pertence à Igreja, porque a Igreja faz sua e a propõe, construindo deste modo diferentes vias para os bispos, para os párocos. E se espera que possa trazer novos frutos”.

Pe. Adrien: “O reconhecimento do Pontifício Conselho nos permite dirigir-nos a outras nações e realizar uma grande trabalho de comunicação e convite para divulgar este método de evangelização que renova profundamente as paróquias”.

Células Paroquiais de Evangelização (CPE): http://cellules-evangelisation.org

Fonte: H2O News

sexta-feira, 12 de junho de 2009

ANO SACERDOTAL: Santo Cura D’Ars

O Santo Cura d’Ars

O Papa Bento XVI convocou um Ano Sacerdotal, por ocasião do 150º aniversário da morte do Santo Cura d’Ars, proclamado padroeiro dos sacerdotes. O tema escolhido para o Ano Sacerdotal é “fidelidade de Cristo, fidelidade do sacerdote”. A abertura será em 19 de junho, solenidade do Sagrado Coração de Jesus e Dia de Santificação Sacerdotal, em presença da relíquia do Santo Cura d’Ars. O objetivo deste ano, segundo o Papa é “ajudar a perceber cada vez mais a importância do papel e da missão do sacerdote na Igreja e na sociedade”.

Certo dia de 1818, alguns padres lamentavam, diante do bispo da cidade de Belley, na França a extrema ignorância teológica de um padre, de 32 anos. O padre em questão era ignorante da cultura do século! Tinha sido despedido do primeiro seminário, aos 20 anos, porque não assimilava o latim. A teologia e a liturgia estavam fora do alcance de sua escassa inteligência. Tentara um segundo seminário e pelas mesmas razões, fora recusado.

Esse era o Padre João Batista Maria Vianney que nasceu em 1786, perto de Lião, na França, de família camponesa, pobre e humilde. Apesar dos insucessos iniciais, queria tanto ser padre que antigo pároco compadeceu-se de sua aflição e resolveu prepará-lo pessoalmente, para o que obteve autorização do bispo local. Assim ajudado, chegou ao diaconato com 28 anos e no ano seguinte, ao sacerdócio.

Não se sabe se por precaução, sua ordenação foi feita, de forma simples, na capela do Seminário Menor de Grenoble e, em seguida, nomearam-no coadjutor do seu antigo pároco para que este lhe completasse a formação. Ali permaneceu por mais três anos. Não aprendeu nem o básico. Quando muito serviria para capelas distantes de pequenas cidades.

No período (1786/1814), a França vivia o clima de efervescência dos tempos da Revolução Francesa e da ascensão e queda do império napoleônico. A razão humana era a nova deusa e entendia-se que, juntamente com sua filha dileta, a Ciência explicaria todos os mistérios. O que não conseguisse explicar seria utopia buscar nos ensinamentos de fé.

Todavia, a Santa Madre Igreja caminhava fiel ao Deposito da Fé e a sua missão libertadora.

Ao Padre Vianney ninguém lhe fazia prognósticos animadores. Faltavam-lhe os apregoados dotes da razão que tanto faziam a grandeza dos séculos das luzes.

A orientação eclesiástica era preparar Henri Lacordaire (1802-1861), frade dominicano que destacou como grande pregador e era aplaudido nos centros de ensino da época. A Igreja buscava destacar o divino e expurgar o exagero de certas conceituações humanas.

Lacordaire e João Maria Vianney! Que enorme distância intelectual os separava. O século fazia apostas no primeiro, mas Deus dispunha, à Sua maneira, dos dois, cada qual numa área especifica. Por essa razão, os padres estavam queixando-se ao bispo de Belley e pela mesma razão o bispo lhes respondera: “Não sei se ele é instruído; sei que é iluminado”.

Na verdade, o Padre Vianney era diferente. A par da simplicidade mais natural e de uma autêntica humildade, irradiava dele algo superior à inteligência, uma forma mais elevada de ver as coisas, que se manifestava nos conselhos que dava no jeito de conversar com as pessoas, de lhes ouvir os problemas e de lhes sugerir soluções ou confortá-las.

Assim chegou o Padre Vianney à pequena cidade de Ars-em-Dombes, de nada mais que 200 a 300 habitantes, no dia 9 de fevereiro de 1818 para cuidar de uma capela semi-abandonada. Não era paróquia. Lá ficaria durante 41 anos, até na madrugada de 4 de agosto de 1859, quando morreu aos 73 anos.

Ao chegar à cidadezinha ficou meio confuso, porque a neblina cobria as casas. Então perguntou a um garoto: “Menino, onde está Ars?” O menino apontou com o dedo dizendo-lhe: “É ali mesmo”. E João Maria Vianney disse ao menino: “Você me ensinou o caminho de Ars, e eu lhe ensinarei o caminho do céu”.

O Padre entrou no povoado levando muitos sonhos e esperanças. Nem imaginava quanto iria sofrer ali dentro. Ars era pequena no tamanho, mas enorme quanto aos problemas: muitas casas de jogatina, de prostituição, de vícios, cidade paganizada. A capela estava sempre vazia. O Padre Vianney se pôs a rezar, fazer jejuns e penitência. Visitava as famílias e as convidava para a Santa Missa. Alguns começaram a ir à capela. Então o pároco fundou a Confraria do Rosário para as mulheres, e a Irmandade do Santíssimo Sacramento para os homens, Diante disso, os donos dos bares e organizadores de jogatinas começaram dura perseguição contra o Padre Vianney. Este chegou a dizer, “Ah, se eu soubesse o que é ser vigário, teria entrado num convento de monges”.

Em 1818, Ars-em-Dombes era uma caricatura cristã. A fé não era vista com seriedade. A capela estava sempre deserta, o povo não freqüentava os sacramentos e o domingo era marcado por festas profanas. Aí ele dobrou seu tempo de oração. Ars começou a transformar-se. A capela se enchia. Virou santuário com peregrinações. Pessoas cultas de outras cidade iam ouvir as homilias do Cura d’Ars. Quando algum padre lhe perguntava qual o segredo de tudo aquilo, o Padre Vianney lhe respondia: “Você já passou alguma noite em oração? Já fez algum dia de jejum?”.

O Cura d’Ars acreditava no poder da oração e do jejum e na resposta do bom Deus. Ele tinha em sua mente a exortação de São Paulo Apostolo: “Orai sem cessar” (1 Ts 5, 17). Não era orador, não falava com eloqüência, nas homilias perdia o fio da meada, atrapalhava-se, outras vezes não sabia como acabá-las cortava a frase e descia do púlpito acabrunhado. O mesmo acontecia na catequese. No confessionário, porem, estava sua maior atuação pelo mistério da Providência Divina. No aconselhamento das pessoas falava do bom Deus de forma tão amorosa que todos saiam reconfortados. Não sabia usar palavras bonitas, idéias geniais, buscava termos do quotidiano das pessoas.

No confessionário viveu intensamente seu apostolado, todo entregue às almas, devorado pela missão, integralmente fiel à vocação. Do confessionário seu nome emergiu e transbordou dos estreitos limites Ars-em-Dombes para aldeias e cidades vizinhas. Os peregrinos que desejavam confessar-se com ele começaram a chegar. Nos últimos tempos de vida eram mais de 200 por dia, mais de 80.000 por ano.

Quando chegou à cidadezinha ninguém veio recebe-lo, quando morreu a cidade tinha crescido enormemente e multidões de peregrinos o acompanharam à última morada. Eram cerca de 100 mil pessoas. A Igreja, que pela lógica humana receara faze-lo sacerdote, curvou-se à sua santidade. João Maria Vianney foi proclamado Venerável pelo papa Pio IX em 1872, beatificado pelo papa São Pio X em 1905, canonizado pelo papa Pio XI em 1925 e pelo mesmo foi declarado padroeiro de todos os párocos do mundo, em 1929. Esse é o Santo Cura d’Ars, cuja memória, celebramos no dia 4 de agosto.

A vida do Santo Cura d’Ars confirma o que São Paulo Apóstolo escreveu: “Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e, o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus” (1 Cor 1, 27-29).

São dois grandes pensamentos conhecidos do povo católico no mundo inteiro do sábio Santo Cura d’Ars. O primeiro é: “Deixai uma paróquia 20 anos sem Padre e lá os homens adorarão os animais”.

E o segundo: “Quem não tem tempo a perder para Deus, perde seu tempo”. Louvado seja o bom Deus pelo Santo Cura d’Ars.

Pe. Inácio José do Vale

Pároco da Paróquia São Paulo Apóstolo

Professor de História da Igreja

Faculdade de Teologia de Volta Redonda

E-mail: pe.inaciojose.osbm@hotmail.com

segunda-feira, 11 de maio de 2009

ESTADO LAICO E ENSINO RELIGIOSO

ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL O E STADO DE SÃO PAULO.

Dom Odilo P. Scherer

O ensino religioso nas escolas públicas é um dos aspectos do acordo entre Igreja e Estado assinado no Vaticano durante a visita do presidente Lula ao papa Bento XVI, em novembro de 2008. Define-se, assim, a imposição do ensino religioso a todos? De uma única concepção religiosa? Da religião católica? Houve muita afirmação desencontrada sobre essas questões e até questionamentos sobre se esse aspecto do acordo não colidia com o princípio da separação entre Igreja e Estado, estabelecido pela República, e o da laicidade do Estado. Espero que minha reflexão sobre o assunto possa ajudar a dirimir eventuais dúvidas.

Antes de tudo, o que diz o texto do acordo na versão divulgada pelo Itamaraty (Nota nº 637, de 13 de novembro de 2008)? O artigo 11 estabelece: "A República Federativa do Brasil, em observância ao direito de liberdade religiosa, da diversidade cultural e da pluralidade confessional do País, respeita a importância do ensino religioso em vista da formação integral da pessoa." Afirma-se, portanto, a liberdade religiosa e o respeito à diversidade cultural e religiosa do povo brasileiro; tudo em sintonia com a Constituição federal e com a realidade sociocultural brasileira. Alguém poderia pôr em dúvida a importância da educação religiosa para a formação integral da pessoa, mas creio que a maioria da população brasileira não duvida disso.

É ainda a Constituição que determina, como tarefa da educação, visar "o pleno desenvolvimento da pessoa" (artigo 205). Estou bem convencido de que uma boa formação religiosa vale muito na vida de uma pessoa, mas respeito quem pensa diversamente. Certo, não me refiro a caricaturas que se fazem da religião, ou a instrumentalizações e desvios da religião, nocivos à boa convivência social.

A seguir, o parágrafo 1º mesmo do artigo do acordo estabelece a questão que mais gerou preocupação, provavelmente por desconhecimento do texto em questão: "O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação." Fica muito claro que o ensino religioso previsto no acordo não é imposto aos estudantes, mas é de matrícula facultativa; não é só católico nem é discriminatório, mas plural e respeitoso da diversidade cultural e religiosa do Brasil; grupos religiosos não-católicos poderão oferecer sua própria proposta de ensino religioso. Tratando-se de um acordo entre a Igreja Católica e o Estado brasileiro, aceitas as afirmações sobre o respeito à diversidade religiosa, o texto poderia ter-se limitado a falar do ensino religioso católico, mas vai além e afirma que o mesmo também vale para as demais confissões religiosas. Não se fazem discriminações.

O texto do acordo também não introduz novidade na legislação brasileira, mas retrata aquilo que já está na lei. De fato, repete-se ipsis litteris o que se lê no artigo 210 da Constituição: "O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental." O acordo também reproduz aquilo que já vem estabelecido na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação). Sendo facultativo para o aluno, são os pais ou os responsáveis legais que podem ajudá-lo a tomar a decisão da matrícula, ou não, quando ele é menor de 16 anos. Quem não quer não será obrigado a fazer a matrícula.

Mas cabe a pergunta se é competência do Estado "ensinar religião". E aí estou de acordo em dizer que não, e também não é o que se prevê no acordo. O Estado deve assegurar aos alunos o direito de receber a formação religiosa desejada. É um direito cidadão. Mas o Estado não escolherá a religião que deve ser ensinada, nem os conteúdos da disciplina, tampouco ministrará o ensino religioso: seria contrário à laicidade do Estado e à liberdade religiosa do povo. O ensino religioso compete aos grupos religiosos específicos que queiram promovê-lo, atendendo a um direito de cidadãos que o desejarem. Evidentemente, isso requer uma regulamentação própria, que já existe em alguns Estados brasileiros, como o do Rio de Janeiro.

De fato, a educação religiosa nos estabelecimentos públicos de ensino fundamental não deve ser diluída em questões gerais de sociologia ou de antropologia religiosa, ou reduzida ao estudo comparado de temas religiosos; nem deverá ser proposta como uma espécie de "religião genérica", indefinida e não-confessional. Tal religião não existe; ou, então, seria uma espécie de religião oficial, oferecida indevidamente pelo Estado, negando o princípio da pluralidade e da liberdade religiosa, bem como a própria laicidade do Estado. Semelhante ensino religioso também não atenderia ao direito constitucional dos cidadãos interessados em receber a educação religiosa conforme à sua fé e sua consciência, nos termos fixados pela lei e no respeito pleno da liberdade religiosa.

Enfim, os diversos grupos religiosos poderiam levantar a dúvida quanto à conveniência da participação dos próprios adeptos no ensino religioso oferecido nas escolas públicas de ensino fundamental. E não ficariam constrangidos os que não professam nenhuma religião? Como já ficou dito, pelo texto do acordo, ninguém será obrigado a matricular-se; e cada grupo religioso pode oferecer a própria proposta de ensino para seus membros. E não se excluem as possibilidades de colaboração ecumênica entre os grupos que o desejarem.

Dom Odilo P. Scherer é cardeal-arcebispo de São Paulo

terça-feira, 28 de abril de 2009

Salvem o Domingo: Dia do Senhor!

Cardeal Martínez Sistach pede «salvar o domingo»
Elogia uma iniciativa do Parlamento Europeu para proteger esse dia de descanso

Por Patrícia Navas
BARCELONA, segunda-feira, 27 de abril de 2009 (ZENIT.org).- O arcebispo de Barcelona, cardeal Lluís Martínez Sistach, elogiou a iniciativa em curso no Parlamento Europeu para proteger o domingo como um dia de descanso semanal na legislação dos Estados membros e comunitária da União Europeia.
Em sua carta pastoral deste domingo, titulada «Salve o domingo», adverte sobre a incidência negativa que teria sobre a família a perda do domingo como um dia festivo e a ampliação dos horários comerciais.
«O benefício econômico e o progresso técnico, frio e nem sempre um progresso autêntico da pessoa humana e do bem comum, não nos deve fazer perder o riquíssimo valor do domingo, o qual tem uma longa tradição em nossa cultura e cujas múltiplas manifestações foram criando cultura e dando sentido e alegria à vida das pessoas e das famílias», assinala.
O cardeal qualifica a iniciativa que está em curso no Parlamento Europeu como «uma moção muito importante que considero que é preciso apoiar».
Com relação à Espanha, recorda que a constituição «garante a proteção social, econômica e jurídica da família».
O cardeal destaca a importância do matrimônio e da família na sociedade: «a promoção de uma autêntica relação, encontro e comunhão dos membros da família traz uma aprendizagem fundamental e insubstituível da vida social», assinala.
Também recorda que «os membros da família precisam do tempo suficiente para conviver e crescer no amor e na ajuda mútua».
Sobre os efeitos da perda do domingo como dia festivo, assinala que «dificultaria que toda a família pudesse se reunir em alguns momentos do dia, especialmente nos dias festivos».
Também que «teria de diminuir a dedicação de muitas pessoas à sua família, especialmente durante as festas» e que dificultaria a coincidência de horários entre os membros de uma família.
Assinala que «o domingo é, para todos os cidadãos, um importante dia de descanso, de alegria e de solidariedade» e acrescenta que «para os cristãos, o domingo é também o dia do Senhor, o qual está em perfeita harmonia com o dia do homem».
A questão do «desaparecimento do domingo» ocupou há alguns meses a atenção dos bispos da França, que publicaram o documento «O domingo, em risco na vida atual» diante de um projeto de lei francês sobre o trabalho no domingo.
Naquela ocasião, os bispos explicaram as razões sociais e antropológicas da importância do dia de descanso semanal na cultura ocidental e para o bem-estar das famílias.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Padre Pedro Fenech


Estimados irmãos Bispos Auxiliares,
Padres, Diáconos, Religiosas/os e leigos


Com pesar, comunico o falecimento do Rev.mo Padre Pedro Fenech, Cura da Catedral da Sé, Vigário Geral da Região Sé e Diretor espiritual no Seminário, aos 73 anos de idade, ocorrido nesta madrugada, de 14 de abril às 03h45, vítima de câncer.
O corpo do Padre Pedro será velado na cripta da Catedral da Sé a partir de hoje, às 15hs.
A Missa de corpo presente será celebrada amanhã, 15 de abril, às 08h30, na Catedral.


Convido padres, religiosos e o povo a participarem.
Rezemos para que Deus acolha o Pe. Pedro na vida eterna e lhe dê o prêmio dos bons e fiéis discípulos e missionários de Jesus Cristo, servidores do reino de Deus.


Card. D.Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Há uma articulação contra o Papa?

Este artigo, redigido pelo Professor Olavo de Carvalho, expõe algumas de uma série de ações que frequentemente tentam macular a Igreja Católica, valendo-se de posturas do Papa Bento XVI. Não sou “fã inconteste” do Sr Olavo, mas pela ótica deste artigo, precisamos avaliar e, talvez, adotar postura mais firme contra determinadas ações da imprensa “manipulada” por grupos anti-católicos.

Articulação mundial contra o Papa

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 7 de abril de 2009

Tão logo o Papa Bento XVI anunciou a reintegração da Igreja tradicionalista na ordem pós-conciliar – o que de si já é uma ironia, pois a novidade não pode reintegrar em si a tradição, e sim ao contrário –, desencadeou-se contra ele uma das mais maliciosas campanhas de ódio já vistas na mídia mundial.

Três episódios marcaram os seus pontos altos.

Primeiro veio o bispo Williamson – um factóide na mais plena acepção do termo. Até a véspera, ninguém o conhecia. Quando o descobriram entre os milhares de sacerdotes e fiéis beneficiados pela suspensão de uma pena eclesiástica coletiva, saiu do anonimato e tornou-se repentinamente um perigo para a espécie humana, por ter emitido numa igreja de bairro, ante umas poucas dezenas de fiéis se tanto, uma opinião antijudaica. Por toda parte ergueram-se gritos de escândalo, significativamente voltados não contra o bispo, mas contra o Papa. Como se a revogação do castigo não viesse do simples reconhecimento de um erro judicial velho de quatro décadas, e sim do endosso papal às convicções pessoais do bispo – até então ignoradas não só do Vaticano, mas do mundo – sobre matéria alheia ao seu sacerdócio, à fé católica, às razões da penalidade e às da respectiva suspensão. Forçando a inculpação por osmose até o último limite do artificialismo, lançava-se sobre toda a Igreja tradicionalista e, de quebra, sobre o Papa que a acolhera de volta, a vaga mas por isso mesmo envolvente suspeita de anti-semitismo. Não por coincidência, entre os mais inflamados denunciantes encontravam-se aqueles que tanto mais se esforçam para proteger os judeus contra perigos inexistentes quanto mais se devotam a entregá-los, inermes, nas mãos de seus inimigos armados.

Depois, veio o episódio das camisinhas. Não há como medir os gritos de horror, as lágrimas de escândalo, as gesticulações frenéticas de abalo moral com que a grande mídia reagiu à declaração blasfema de que esses sacrossantos dispositivos não protegem eficazmente contra a Aids. Na verdade, não protegem nada. Edward C. Green, diretor do Projeto de Pesquisas sobre Prevenção da Aids no Harvard Center for Population and Development Studies, informa que a revisão mundial dos resultados obtidos nos últimos 25 não mostra o menor sinal de que as camisinhas impeçam a contaminação. O único método que funciona, diz Green, é a redução drástica do número de parceiros sexuais. Uganda, que por esse método e com forte base religiosa reduziu os casos de Aids em 70 por cento, é o único – repito: o único – caso de sucesso espetacular já obtido contra essa doença. Mas que importam esses dados? A camisinha não vale pela eficácia, ó materialistas prosaicos. Ela é um símbolo, a condensação elástica dos mais belos sonhos da utopia pansexualista, onde as criancinhas praticarão sexo grupal nas escolas, sob a orientação de professores carinhosos até demais (sem pedofilia, é claro), e nas praças os casais gays darão lições de sodomia teórica e prática, para encanto geral do público civil, militar e eclesiástico. De que vale a verdade, de que valem as estatísticas, de que valem as vidas dos ugandenses, diante de imagens tão radiosas da civilização pós-cristã que a ONU, o Lucis Trust, a mídia bilionária e todos os pseudo-intelectuais do mundo almejam para a humanidade? É em defesa desses altos valores que se ergueram gritos de revolta contra o Papa, esse estraga-prazeres, esse iconoclasta sacrílego.

Por fim, veio o documentário da BBC, onde o ex-cardeal Ratzinger é acusado de proteger padres pedófilos, determinando que fossem removidos de paróquia em vez de punidos. É claro que a coisa já estava pronta fazia tempo, aguardando a oportunidade política, que veio com os esforços de Bento XVI para restaurar a unidade da Igreja, algo que os apóstolos da nova civilização temem como à peste. A BBC, outrora uma estação respeitável, tornou-se uma central de propaganda esquerdista tão fanática e desavergonhada que o que quer que venha dela deve ser recebido a cusparadas, mas em todo caso vale lembrar que um padre formalmente condenado na justiça por pedofilia não tem como ser removido de paróquia, pois já está removido para a cadeia. Restam os padres meramente acusados, sem provas judiciais válidas. A mídia quer que a Igreja os castigue assim mesmo, a priori, à primeira palavra que se publique contra os desgraçados. O cardeal Ratzinger é acusado, no fim das contas, de não ter feito isso. É preciso toda a técnica cinematográfica da BBC para dar a impressão de que se trata de coisa imoral, até mesmo vagamente criminosa. Mas, nesses casos, a realidade não importa nada. A impressão é tudo.

Destaco esses três episódios só como amostras, no meio de um bombardeio multilateral, incessante e crescente, no qual só a estupidez voluntária pode enxergar uma simples confluência de casualidades, sem nenhuma coordenação ou planejamento.

terça-feira, 31 de março de 2009

São Benjamin, Diácono e Martir



Evocamos hoje São Benjamim, diácono e mártir, vítima da perseguição aos cristãos, no início do século V.

Nasceu no ano de 394 na Pérsia, e ao ser evangelizado, começou a participar da Igreja ao ponto de descobrir sua vocação ao diaconato.

Serviu a Palavra e aos irmãos na caridade, chamando a atenção de muitos para Cristo.

Chegou a ser preso por um ano, sofrendo, e se renunciasse ao nome de Jesus, seria solto. Porém, mesmo na dor, na solidão e na injustiça, ele se uniu ainda mais ao Cristo crucificado.

Foi solto com a ordem de não falar mais de Jesus para ninguém, o que era impossível, pois sua vida e seu serviço evangelizavam.

Benjamim foi canal para que muitos cegos voltassem a ver, muitos leprosos fossem curados e assim muitos corações duvidosos se abriram a Deus.

Foi novamente preso, levado a publico e torturado para que renunciasse à fé. Perguntou então ao Rei, se gostaria que algum de seus súditos fosse desleal a ele. Obviamente que o rei disse que não. E assim o diácono disse que assim também ele, não poderia renunciar a sua fé, a seu Rei, Jesus Cristo.

E por não renunciar a Jesus, foi martirizado. Isso no ano de 422.

São Benjamim, rogai por nós!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Muita coisa boa vem da Brasilândia!

Muita coisa boa vem da Brasilândia!

Neste dia 29 de março, aconteceu um momento especial na vida do povo católico da Região Episcopal Brasilândia: a Peregrinação ao Apóstolo Paulo na Catedral da Sé, considerada o grande evento missionário da Arquidiocese de São Paulo, no Ano Paulino.

Com a participação de pelo menos três mil e quinhentas pessoas, a Catedral ficou lotada com os peregrinos que participaram da Santa Missa celebrada às 15h00, com a presidência do arcebispo metropolitano Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer. Concelebrada pelo Vigário Episcopal Dom José Benedito Simão, os Padres, os Diáconos e todo o povo da Brasilândia, a Santa Missa marcou os Vinte Anos de caminhada dessa Região Episcopal.

Parabenizamos a todos os envolvidos, que de uma forma ou de outra, se dispuseram a trabalhar com afinco e amor para que os objetivos de nossa peregrinação fossem alcançados. Desde o Cardeal, o Bispo Auxiliar, Padres, Diáconos, Religiosos e Religiosas, Consagrados e Consagradas e, principalmente, Leigos e Leigas, sentiram que em toda a Celebração, não aconteceram momentos teatrais, mas, momentos de verdadeira expressão da fé de um povo lutador e perseverante na busca de realizar o Amor Cristão em todas as suas dimensões. Cada peregrino procurou dar o melhor de si neste evento.

Todas as equipes e lideranças envolvidas na preparação do evento, desde os primeiros momentos, participaram com um compromisso pessoal na busca das condições para que a Peregrinação à Catedral, inspirada pelo amor Paulino, refletisse o amor do povo da Brasilândia por sua Igreja, procurando levar a mensagem da Caridade anunciada e vivenciada por nosso Senhor Jesus Cristo.

Desde o Secretariado da Cúria Regional (que, além de profissionais, agiram com amor) até o dono da Padaria da esquina (que contribuiu com os pãezinhos da Peregrinação a pé), desde a Equipe de Liturgia até os músicos, dos motoristas dos carros de som e de apoio até os leitores, do salmista aos organizadores dos momentos litúrgicos, dos casais de cada Setor nas oferendas até a comentarista, dos padres aos diáconos permanentes, de cada Comissão, Movimento e Grupos das novas comunidades aos anônimos que se empenharam nesta empreitada, dos policiais dos diversos Batalhões e da CET, dos organizadores da Peregrinação a Pé aos que elaboraram a carta ao Prefeito, todos sem exceção participaram e foram marcados pela grandiosidade da fé necessária para este evento. Cada Setor participou e assumiu seu compromisso com a Peregrinação.

Dois momentos marcaram de forma diferenciada nossa Peregrinação: a Caminhada a Pé do Largo Cliper na Freguesia do Ó até a Catedral, com cerca de 300 peregrinos e o momento de reflexão na Praça do Patriarca, onde foi entregue ao representante do poder municipal, uma carta com as principais necessidades do povo da Região Brasilândia.

Como esquecer das dezenas de ônibus que saíram dos rincões da Brasilândia, levando cerca de três mil peregrinos entre crianças, jovens e idosos para a caminhada da Praça até a Catedral? Como apagar da memória a caminhada da Praça do Patriarca até a Catedral, avivando nosso Centro Velho com milhares de vozes rezando e cantando? Como esquecer na visita de Nossa Senhora do Ó ao Apóstolo Paulo?

Parabéns Região Episcopal Brasilândia! Parabéns ao nosso Arcebispo pelo convite à Peregrinação! Parabéns ao “nosso Dom Simão” por acreditar neste povo humilde, mas, com muita fé! Parabéns Dom Simão pela perseverança e presença em muitas das reuniões da Comissão Executiva do Conselho Regional de Pastoral! Parabéns aos que, mesmo não citados, ajudaram ao sucesso dessa manifestação de fé!

São Paulo Apóstolo, rogai por nós!

Louvado seja nosso sempre Senhor Jesus Cristo!

Diácono Franco Abelardo

Região Episcopal Brasilândia

sexta-feira, 20 de março de 2009

Para Pensar…

O deus dos palpiteiros

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 18 de março de 2009

Se há um Deus onipotente, onisciente e onipresente, é óbvio que não podemos conhecê-Lo como objeto, ou mesmo como sujeito externo, mas apenas como fundamento ativo da nossa própria autoconsciência, maximamente presente como tal no instante mesmo em que esta, tomando posse de si, se pergunta por Ele. Tal é o método de quem entende do assunto, como Platão, Aristóteles, Sto. Agostinho, S. Francisco de Sales, os místicos da Filocalia, Frei Lourenço da Encarnação ou Louis Lavelle.

Quando um Richard Dawkins ou um Daniel Dennett examinam a questão de um “Ser Supremo” que teria “criado o mundo” e chegam naturalmente à conclusão de que esse Ser não existe, eles raciocinam como se estivessem presentes à criação enquanto observadores externos e, pior ainda, observadores externos de cuja constituição íntima o Deus onipresente tivesse tido a amabilidade de ausentar-se por instantes para que pudessem observá-Lo de fora e testemunhar Sua existência ou inexistência. Esse Deus objetivado não existe nem pode existir, pois é logicamente autocontraditório. Dawkins, Dennett e tutti quanti têm toda a razão em declará-lo inexistente, pois foram eles próprios que o inventaram. E ainda, por uma espécie de astúcia inconsciente, tiveram o cuidado de concebê-lo de tal modo que as provas empíricas da sua inexistência são, a rigor, infinitas, podendo encontrar-se não somente neste universo mas em todos os universos possíveis, de vez que a impossibilidade do autocontraditório é universal em medida máxima e em sentido eminente, não dependendo da constituição física deste ou de qualquer outro universo.

Se você não “acredita” no Deus da Bíblia, isso não faz a mínima diferença lógica ou metodológica na sua tentativa de investigar a existência ou inexistência d’Ele, quando essa tentativa é honesta. Qualquer que seja o caso, você só pode discutir a existência de um objeto previamente definido se o discute conforme a definição dada de início e não mudando a definição no decorrer da conversa, o que equivale a trocar de objeto e discutir outra coisa. Se Deus é definido como onipotente, onisciente e onipresente, é desse Deus que você tem de demonstrar a inexistência, e não de um outro deus qualquer que você mesmo inventou conforme as conveniências do que pretende provar.

O método dos Dawkins e Dennetts baseia-se num erro lógico tão primário, tão grotesco, que basta não só para desqualificá-los intelectualmente nesse domínio em particular, mas para lançar uma sombra de suspeita sobre o conjunto do que escreveram sobre outros assuntos quaisquer, embora seja possível que pessoas incompetentes numa questão que julgam fundamental para toda a humanidade revelem alguma capacidade no trato de problemas secundários, onde sua sobrecarga emocional é menor.

Longe de poder ser investigado como objeto do mundo exterior, Deus também é definido na Bíblia como uma pessoa, e como uma pessoa sui generis que mantém um diálogo íntimo e secreto com cada ser humano e lhe indica um caminho interior para conhecê-La. Só se você procurar indícios dessa pessoa no íntimo da sua alma e não os encontrar de maneira alguma, mesmo seguindo precisamente as indicações dadas na definição, será lícito você declarar que Deus não existe. Caso contrário você estará proclamando a inexistência de um outro deus, no que a Bíblia concordará com você integralmente, com a única diferença de que você imagina, ou finge imaginar, que esse deus é o da Bíblia.

Quando o inimigo da fé faz um esforço para ater-se à definição bíblica, ele o faz sempre de maneira parcial e caricata, com resultados ainda piores do que no argumento da “criação”. Dawkins argumenta contra a onisciência, perguntando como Deus poderia estar consciente de todos os pensamentos de todos os seres humanos o tempo todo. A pergunta é aí formulada de maneira absurda, tomando as autoconsciências como objetos que existissem de per si e questionando a possibilidade de conhecer todos ao mesmo tempo ex post facto. Mas a autoconsciência não é um objeto. É um poder vacilante, que se constitui e se conquista a si mesmo na medida em que se pergunta pelo seu próprio fundamento e, não o encontrando dentro de seus próprios limites, é levado a abrir-se para mais e mais consciência, até desembocar numa fonte que transcende o universo da sua experiência e notar que dessa fonte, inatingível em si mesma, provém, de maneira repetidamente comprovável, a sua força de intensificar-se a si próprio. Dez linhas de Louis Lavelle sobre este assunto, ou o parágrafo em que Aristóteles define Deus como noesis noeseos, a autoconsciência da autoconsciência, valem mais do que todas as obras que Dawkins e Dennett poderiam escrever ao longo de infinitas existências terrestres. Um Deus que desde fora “observasse” todas as consciências é um personagem de história da carochinha, especialmente inventado para provar sua própria inexistência. Em vez de perguntar como esse deus seria possível, sabendo de antemão que é impossível, o filósofo habilitado parte da pergunta contrária: como é possível a autoconsciência? Deus não conhece a autoconsciência como observador externo, mas como fundamento transcendente da sua possibilidade de existência. Mas você só percebe isso se, em vez de brincar de lógica com conceitos inventados, investiga a coisa seriamente desde a sua própria experiência interior, com a maturidade de um filósofo bem formado e um extenso conhecimento do status quaestionis.

O que mata a filosofia no mundo de hoje é o amadorismo, a intromissão de palpiteiros que, ignorando a formulação mesma das questões que discutem, se deleitam num achismo inconseqüente e pueril, ainda mais ridículo quando se adorna de um verniz de “ciência”.

quarta-feira, 18 de março de 2009

A Defesa da Vida e da Mulher: caso de Pernambuco

Presidente da PAV fala sobre episódio da menina brasileira violentada

Comentário de D. Rino Fishichella, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, publicado no L’Osservatore Romano, em 15/03/2009, sobre o caso da menina brasileira violentada em Alagoinha (Pernambuco).

"O debate sobre algumas questões frequentemente se torna cerrado e as diferentes perspectivas nem sempre permitem considerar o quanto o acontecimento em jogo seja realmente grande. É este o momento em que se deve olhar o essencial e, por um momento, deixar de lado aquilo que não toca diretamente o problema. O caso em sua dramaticidade é simples. Uma menina de apenas nove anos, a quem chamaremos Carmen, e a quem devemos olhar fixamente nos olhos sem distrair sequer um minuto, para fazê-la entender o quanto a queremos bem. Carmen, em Alagoinha, foi violentada várias vezes pelo seu jovem padrasto, engravidou de dois gêmeos e nunca mais teve uma vida tranquila. A ferida é profunda porque a violência a destruiu por dentro e dificilmente lhe permitirá no futuro olhar os outros com amor.

Carmen representa uma história de violência cotidiana e ganhou as páginas dos jornais somente porque o arcebispo de Olinda e Recife se apressou em excomungar os médicos que a ajudaram a interromper a gravidez. Uma história de violência que, infelizmente, teria passado despercebida, pois estamos acostumados a ver todos os dias fatos de uma gravidade sem igual, se não fossem as reações causadas pela atuação do bispo. A violência sobre uma mulher é grave, e se torna ainda mais deplorável quando perpetrada contra uma menina pobre, que vive em condição de degradação social. Não existe linguagem correspondente para condenar tais episódios, e os sentimentos que surgem são muitas vezes uma mistura de raiva e de rancor que se acalmam somente quando a justiça é feita realmente e se tem certeza de que o criminoso será punido.

Carmen deveria ter sido em primeiro lugar defendida, abraçada, acariciada com doçura para fazê-la sentir que estamos todos com ela; todos, sem exceção. Antes de pensar na excomunhão era necessário e urgente salvaguardar sua vida inocente e recolocá-la num nível de humanidade da qual nós homens de Igreja devemos ser anunciadores e mestres. Assim não foi feito e, infelizmente, a credibilidade de nosso ensinamento sofre com isso, pois aparece aos olhos de muitos como insensível, incompreensível e sem misericórdia. É verdade, Carmen trazia consigo outras vidas inocentes como a sua, não obstante fossem frutos da violência, e foram ceifadas; isso, todavia, não basta para fazer um julgamento que pesa como uma guilhotina.

No caso de Carmen se confrontaram a vida e a morte. Por causa de sua tenra idade e de suas condições de saúde precárias sua vida corria sério risco por causa da gravidez. Como agir nestes casos? Decisão árdua para o médico e para a lei moral. Escolha como esta, mesmo como uma casuística diferente, se repetem cotidianamente nas salas de tratamento intensivo e o médico se encontra só no ato de decidir o que fazer. Ninguém chega a uma decisão desse tipo com desenvoltura; é injusto e ofensivo pensá-lo.

O respeito devido ao profissionalismo do médico é uma regra que deve envolver todos e não pode consentir chegar a um julgamento negativo sem antes considerar o conflito criado em seu íntimo. O médico traz consigo sua história e sua experiência; uma escolha como essa de ter que salvar uma vida, sabendo que coloca em sério risco outra, jamais é vivida com facilidade. Certo, alguns se acostumam a tais situações que e as vivem sem sentimento; nestes casos, porém, a vocação de ser médico é reduzida apenas a uma profissão vivida sem entusiasmo e passivamente. Fazer de um caso um todo, além de incorreto seria injusto.

Carmen repropôs um caso moral entre os mais delicados; tratá-lo de forma rápida não faria justiça nem à sua frágil pessoa nem aos que estão envolvidos no caso. Como todo caso singular e concreto, merece ser analisado de forma peculiar, sem generalizações. A moral católica possui princípios dos quais não pode prescindir, mesmo se o quisesse. A defesa de uma vida humana desde a sua concepção pertence a um destes princípios e se justifica pela sacralidade da existência. Todo ser humano, de fato, desde o primeiro instante de vida traz consigo a imagem do Criador, e por isto estamos convictos de que devem ser reconhecidos os direitos e a dignidade de toda pessoa, primeiro entre todos o de sua intangibilidade e inviolabilidade. O aborto não espontâneo sempre foi condenado pela lei moral como um ato intrinsecamente mau e este ensinamento permanece imutável em nossos dias desde os primórdios da Igreja. O Concílio Vaticano II na Gaudium es spes - documento de grande abertura e perspicácia em relação ao mundo contemporâneo - usa de forma inesperada palavras inequívocas e duríssimas contra o aborto direto. A colaboração formal constitui uma culpa grave que, quando realizada, exclui automaticamente da comunidade cristã. Tecnicamente, o código de Direito Canônico usa a expressão latae sententiae para indicar que a excomunhão se atua automaticamente no momento em que o fato acontece.

Não era preciso tanta urgência e publicidade ao declarar um fato que se realiza de maneira automática. O que se sente maior necessidade neste momento é o sinal de um testemunho de proximidade a quem sofre, um ato de misericórdia que, mesmo mantendo firme o princípio, é capaz de olhar além da esfera jurídica para atingir aquilo que o direito prevê como objetivo de sua existência: o bem e a salvação daqueles que crêem no amor do Pai e daqueles que acolhem o Evangelho de Cristo como as crianças, que Jesus chamava para junto de si e as abraçava dizendo que o reino dos céus pertence a quem é como elas.

Carmen, estamos do seu lado. Partilhamos o sofrimento pelo qual passou, queremos fazer de tudo para lhe restituir a dignidade que lhe foi tirada e o amor de que você precisa ainda mais. São outros que merecem a excomunhão e o nosso perdão, não os que lhe permitiram viver e ajudam a recuperar a esperança e a confiança, não obstante a presença do mal e a maldade de muitos".

[Com Rádio Vaticano]