
Diácono Nelsinho Corrêa
"Ai dos padres, das paróquias, se não houvesse os diáconos"
Consagrado há 24 anos na Comunidade Canção Nova, Nelsinho Corrêa, desde pequeno pensou em ser padre. Cursou Filosofia, mas quando pretendia iniciar seus estudos em Teologia, conheceu Márcia, sua esposa. Com um dom especial para a comunicação, e ainda com uma grande vontade de levar a Palavra de Deus às pessoas, Nelsinho descobriu entre o matrimônio e a paternidade, sua vocação ao diaconato.
Ao lado do fundador da Canção Nova, padre Jonas Abib, há 32 anos e pai de 3 filhos, diácono Nelsinho Corrêa vai completar 6 anos de diaconato, em dezembro próximo, na Comunidade Canção Nova, em Cachoeira Paulista (SP).
Neste mês dedicado às vocações, o diácono, também formador geral da comunidade a qual pertence, abriu as portas de sua sala para o cancaonova.com e falou sobre o serviço diaconal e a importância desta função na vida da Igreja e da comunidade católica.
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cancaonova.com: Como surgiu a sua vocação?
Diácono Nelsinho: Desde pequeno, eu pensei em ser sacerdote. Fiz curso de Filosofia e entre este e o curso de Teologia, conheci a Márcia, minha esposa. Mas eu sempre ia à Santa Missa e pensava: "Puxa vida, o padre podia falar isso também". Eu via a homilia dele e dizia que se eu fosse padre, falaria isso também. Por isso eu queria ser padre. Nunca pensei em diaconato, pois naquela época, isso não era algo tão popular. Quando fui para Londrina (PR), o arcebispo de lá, dom Albano Bortoletto Cavallin, disse para mim: "Você nunca pensou em ser diácono?". A partir daí, entrei na escola diaconal e iria começar a fazer Teologia. Mas logo, fui remanejado para Palmas e achei que isso tinha acabado. Mas quando cheguei lá, descobri que também tinha escola diaconal. Quando vi, já era diácono. Foi algo que Deus encaminhou, e graças a Ele, hoje eu exercito meu diaconato na formação [membros da Comunidade Canção Nova].
cancaonova.com: Foi o matrimônio que o fez desistir de ser padre ?
Diácono Nelsinho: Sim, mas também perceber que Deus tinha me dado o dom da palavra, porque eu tenho facilidade de falar com crianças, jovens e pessoas de mais idade. O diácono é um servo da Palavra de Deus, e quando eu entendi isso, vi que pode haver mais de mil e quinhentos padres na Missa, mas quem proclama a Palavra é o diácono. Ele tem uma função muito específica, e eu me encantei por isso, mesmo sabendo que se eu ficar viúvo não posso me casar de novo. Mas não está nos meus planos ficar viúvo; já combinei com a Márcia que eu vou "na frente" (risos).
cancaonova.com: Quais as funções de um diácono na Igreja?
Diácono Nelsinho: O diácono está a serviço da Igreja. Diaconia é serviço. Observe que o diácono usa uma estola diferente da dos padres, pois a dele é de lado, simbolizando a toalha que Cristo enrolou na cintura para servir, para lavar os pés dos discípulos. O diácono tem uma função muito específica, pois é ele quem proclama a Palavra na Santa Missa, é ele quem ergue o cálice com o sangue do Senhor. Ele também faz batizados, casamentos, dá a bênção às pessoas e aos objetos. A função dele é o serviço que está ligado ao bispo ou ao presidente da Celebração Eucarística. O diaconato é um dos graus do sacramento da ordem. No meu caso, sou diácono permanente.
cancaonova.com: Uma pessoa solteira pode ser diácono permanente?
Diácono Nelsinho: Pode sim, mas se ele for solteiro, terá de ficar solteiro para sempre. Assim como os diáconos casados que, se ficarem viúvos, não poderão se casar mais. Quando um diácono vai ser padre, é chamado de transitório, pois todo padre antes da sua ordenação sacerdotal, é diácono, mas nem todo diácono vai ser padre. Há algumas exigências mínimas, como ter no mínimo 35 anos, ser casado há 5 anos, a família precisa aceitar, porque se a mulher não aceitar, o bispo não o ordena, pois não adianta ser um homem cheio de encargos e a mulher não o acompanhar. Há também alguns diáconos que, depois que ficaram viúvos, tornaram-se padres, mas isso não está nos meus planos.
cancaonova.com: Como é possível ser casado e, ao mesmo tempo, ser um diácono na Igreja?
Diácono Nelsinho: Eu vejo que sempre tenho que separar uma coisa da outra, mas, na verdade, acaba sendo uma coisa só. Existe um lado meu que é diácono e um outro, que é pai, é marido, que tem as obrigações do dia-a-dia. Mas como eu sou bem caseiro, gosto muito de cozinhar, vou para cozinha e meus filhos gostam muito do meu tempero. Essa é uma forma de eu estar inserido [na família] como pai. Por outro lado, tenho uma função na Igreja, e quando vou à Missa, raramente estou sentado no meio do povo, pois tenho que servir ao altar. Procuro conciliar tudo isso entendendo que ser diácono não é um título, porque o nosso maior título é ser batizado. Nós "aparecemos", mas o que eu procuro evitar é não deixar que [a função de diácono] "suba à cabeça". Então, entendendo bem isso, não tem problema. No reino de Deus não tem cargo, tem encargo, serviço; é uma missão bem exigente. Tenho que ser diácono no meu ministério, proclamando o Evangelho, servindo ao altar, celebrando casamentos. Como eu não vivo em uma paróquia, eu escolho os casamentos que vou fazer, só faço casamentos que são para sempre (risos). Procuro fazer bem as duas coisas, sempre junto com a minha família.
cancaonova.com: Aquele que serve como diácono pode pedir afastamento de suas funções?
Diácono Nelsinho: Pode sim. Há diáconos que pediram afastamento do ministério, mas é preciso que o bispo encaminhe o pedido, porque é tudo ligado a Roma. Isso é uma coisa muito séria, pois ele pede o afastamento, mas será diácono o resto da vida.
cancaonova.com: Além de suplentes dos presbíteros, os diáconos exercem alguma função direta com a comunidade?
Diácono Nelsinho: Eles estão sempre dando apoio a uma paróquia. Inclusive, há algumas paróquias em que há diaconias, onde quem está à frente é um diácono. Lógico que o padre vai lá uma vez por mês para celebrar a Santa Missa, porque o diácono não a celebra nem consagra o pão e o vinho no Corpo e Sangue de Cristo. Há alguns que exercem cargos administrativos, ou seja, são administradores de obras, de editoras, de emissoras de TV. Alguns nem vão para o altar [servir]. No meu caso, por exemplo, eu vivo o meu diaconato mais na formação dos membros da Comunidade Canção Nova.
cancaonova.com: Qual a contribuição que o diaconato oferece às necessidades de evangelização do mundo atual?
Diácono Nelsinho: São muitas, porque hoje nós estamos numa fase muito bonita da Igreja Católica, que conta com muitas vocações; os seminários estão cheios. Mas mesmo assim, os padres não dão conta de atender a todos. Se corrermos as dioceses, veremos que os diáconos trabalham muito, pois todos os finais de semana celebram casamentos e batizados. Os padres ficam por conta das Santas Missas, praticamente. Muitos deles celebram cerca de 4 a 5 Celebrações Eucarísticas no domingo. Então, o diácono exerce um papel muito importante. Ele não é um "coroinha diplomado" nem compete com o padre; ele é alguém que está ao lado deste. Muitos diáconos são pais de família que dedicam sua vida à celebração de batizados, casamentos, pastorais. Hoje, os diáconos estão muito envolvidos nas paróquias e exercem um trabalho fabuloso. Ai dos padres, das paróquias, se não houvesse os diáconos.
cancaonova.com: Como diácono da Comunidade Canção Nova, o senhor exerce funções diversas das de outros diáconos de paróquias, como por exemplo, ser formador geral da comunidade. Qual o maior benefício para a sua vocação exercer esta função?
Diácono Nelsinho: Contribui muito, porque eu não nasci diácono, de estola. Fui descobrindo minha vocação e como padre Jonas fala: "Não queremos ter padre Canção Nova, queremos ter Canção Nova padre". Então, eu sou "Canção Nova diácono". Para mim, não tem sentido o diaconato fora da comunidade. Embora eu tenha sido incardinado na diocese de Palmas (TO) – dom Alberto Taveira ordenou-me –, devo obediência à Igreja. Mas eu nasci aqui, fui gerado aqui; tinha 15 anos quando conheci o padre Jonas. Hoje tenho 47 anos, vivi minha vida na comunidade [Canção Nova]. Então, há este sentido de eu servir nesta obra, porque nela eu descobri minha vocação de ser de Deus e de ser consagrado no diaconato.


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