quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Intelectuais de "La Sapienza" são enganados!

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008 (ZENIT.org).-
Diante da coleta de assinaturas – entre professores, pesquisadores e doutorandos das universidades italianas – em solidariedade com os 67 professores cuja carta impediu a visita do Papa à universidade de La Sapienza, «L’Osservatore Romano» – edição diária italiana datada desta quarta-feira – adverte sobre a difusão de um erro subscrito, agora, por outros 1.479. Oferecemos na íntegra o comentário do jornal da Santa Sé.
* * *As 1.479 pessoas que assinaram o chamado de solidariedade para com os 67 professores de La Sapienza que, com cuja carta, de fato, impediram Bento XVI de falar na sede universitária, escreveram: «Nós, signatários, afirmamos que teríamos nos comportado como os 67 em nome da liberdade de pesquisa e da ciência» (quem dá notícia disso é o «Corriere della Sera» de 5 de fevereiro). Talvez os 1.479 desconheçam que, «em nome da liberdade de pesquisa e da ciência», aceitaram uma falsidade, aceitando uma afirmação sem comprovar sua veracidade.
Na carta dos 67 se lê: «Em 15 de março de 1990, sendo ainda cardeal, em um discurso na cidade de Parma, Joseph Ratzinger retomou uma afirmação de Feyerabend: ‘Na época de Galileu, a Igreja se ateve à razão mais do que o próprio Galileu. O processo contra Galileu foi razoável e justo’. São palavras que, como cientistas fiéis à razão e como professores que dedicam sua vida ao progresso e à difusão do conhecimento, nos ofendem e nos humilham. Em nome da laicidade da ciência e da cultura e no respeito deste Ateneu nosso, aberto a professores e estudantes de todo credo e de toda ideologia, esperamos que o incoerente evento ainda possa ser anulado».
Se antes de apressar-se a subscrever a solidariedade com os 67, algum dos 1.479 tivesse verificado tal afirmação, teria descoberto que quem escreveu a carta obteve a citação do discurso de Ratzinger a partir da página Papa Bento XVI da Wikipédia, a conhecida enciclopédia virtual que os internautas redigem e que nenhuma pessoa de ciência utilizaria como fonte exclusiva de suas investigações sem verificar com precisão se é fidedigna.
Que a Wikipédia seja com toda probabilidade a fonte da qual se tomou a citação, testemunha-o o fato de que na carta dos 67 se faz referência a uma conferência do cardeal Ratzinger de 15 de março de 1990 em Parma. A conferência aconteceu, mas em Roma, na Universidade La Sapienza [em 15 de fevereiro de 1990, N. da R.].
O texto daquela conferência está contido em um livro, publicado em 1992 por Edizioni San Paolo com o título Svolta per l’Europa? Chiesa e modernità nell’Europa dei rivolgimenti. No pé de página, consta a seguinte «advertência» do autor: «A primeira redação desta contribuição se apresentou em 16 de dezembro de 1989 em Rieti – ainda sob a viva impressão dos acontecimentos recém-registrados na Europa oriental – como tentativa de uma reflexão inicial sobre as causas e conseqüências de tudo que ocorreu. A versão aqui apresentada é a que se usou em uma conferência na Universidade “La Sapienza” de Roma, em 15 de fevereiro de 1990. Por ocasião da celebração do 1.400º aniversário do III concílio de Toledo, apresentei em Madri, em 24 de fevereiro de 1990, uma ulterior redação, modificada com relação à circunstância específica».
Pois bem, o surpreendente é que quem tomou a citação de Feyerabend não pode deixar de ter lido a continuação* da mesma, contida na Wikipédia, que permite perceber que o sentido da frase de Ratzinger é exatamente o contrário do que os 67 professores pretenderam atribuir ao Papa.
Cada um é livre para julgar se este modo de usar a razão é correto ou se se trata mais de um ato de deslealdade: o risco de pregar a razão ante a pressão dos interesses e a atração da utilidade é exatamente aquilo que o Papa teria alertado ao corpo docente de La Sapienza, se tivesse podido falar. Que cada um julgue quem realmente defendeu a razão.
[*N. do T.: O parágrafo aludido da Wikipédia em italiano está disponível em
http://it.wikipedia.org/wiki/Papa_Benedetto_XVI . Diz, em sua versão completa - consultada nesta quarta-feira - «Em 15 de março de 1990, sendo ainda cardeal, em um discurso na cidade de Parma, retomou uma afirmação de Feyerabend: ‘Na época de Galileu a Igreja se ateve à razão mais que o próprio Galileu. O processo contra Galileu foi razoável e justo’, acrescentando: ‘Seria absurdo construir sobre a base destas afirmações uma apressada apologia. A fé não cresce a partir do ressentimento e da rejeição da racionalidade, mas desde sua fundamental afirmação e desde sua inscrição em uma racionalidade maior. Aqui quis recordar um caso sintomático que evidencia até que ponto a dúvida da modernidade sobre si mesma recorre hoje à ciência e à tecnologia’; mostrando portanto que critica as idéias de Feyeraband sobre Galileu, de cujo processo João Paulo II havia pedido oficialmente desculpas pelo erro da Igreja»].

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