BRASÍLIA, segunda-feira, 29 de outubro de 2007 (ZENIT.org).
No próximo dia 24 de novembro, em Roma, acontece o Consistório no qual Bento XVI criará os 23 novos cardeais anunciados no dia 17 de outubro, entre os quais o arcebispo de São Paulo (Brasil), Dom Odilo Pedro Scherer.
Em entrevista à Assessoria de Imprensa da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), o novo cardeal fala sobre sua nomeação e sobre as funções que lhe caberão como membro do colégio de conselheiros do Papa.
–Quais são as funções do cardeal?
–Dom Odilo: Os cardeais formam um colégio de auxiliares diretos do papa que o assistem em função de sua missão universal diante da Igreja. Podemos dizer que os cardeais são um colégio de consultores, de conselheiros. A função principal do colégio cardinalício é eleger o novo papa quando for o momento.
–Quando o colégio cardinalício se reúne?
- Dom Odilo: Não há reuniões periódicas, mas sempre quando o papa convoca como no Consistório que é a reunião dos cardeais com o papa. O único ato do qual eles automaticamente participam é o conclave. Para os sínodos, por exemplo, precisam ser eleitos por suas respectivas Conferências Episcopais. Quando isso não acontece, a maioria é convocada para participar do sínodo.
–Como é o Consistório durante o qual são criados os novos cardeais?
–Dom Odilo: Em Roma existe todo um ritual e a cidade participa muito. Hoje o colégio cardinalício é universal, mas antes, quando ainda existia o Estado Pontifício, o colégio era quase só italiano e, sobretudo, romano. Por isso o povo romano considera os cardeais como parte do clero de Roma. Isso fica configurado na entrega simbólica de uma paróquia de Roma a cada cardeal ou de uma Igreja de Roma como igreja titular sobre a qual, teoricamente, o cardeal deve velar. Simbolicamente isso significa que cada cardeal é membro do clero de Roma e, na eleição do papa, o clero da diocese de Roma, na pessoa dos cardeais, escolhe o seu bispo.
–Que critérios o papa usa para anunciar os cardeais? Existem sedes cardinalícias?
–Dom Odilo: A nomeação dos cardeais é estrita decisão do papa. Mas existem algumas situações que tornam previsível esta nomeação. Não existem, propriamente, sedes cardinalícias. O título é da pessoa e não da sede, tanto assim que, quando o cardeal é transferido, ele leva consigo o título de cardeal. Porém, existem sedes e funções de serviços, por exemplo, a cúria romana, onde por tradição e pela história sempre houve um cardeal. Por exemplo, ficaria muito estranho, para a opinião pública ou para tradição, que de repente não houvesse mais cardeal no Rio de Janeiro ou em Milão ou em Paris. Portanto, embora não se possa falar em sedes cardinalícias, existem sedes que normalmente sempre terão cardeais.
–Quais seriam as do Brasil?
–Dom Odilo: No Brasil, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo são sedes que, desde há várias décadas, tiveram cardeais e, certamente, sempre terão.
–O Brasil poderia ter mais cardeais?
–Dom Odilo: O Brasil tem nove cardeais, mas cinco deles já são arcebispos eméritos, inclusive já tendo passado dos 80 anos e, por isso, de acordo com as normas atuais, não participam mais da eleição do papa. Então o Brasil tem quatro cardeais eleitores. Dizer que o Brasil poderia ter mais ou menos cardeais, isso é uma decisão que depende do Santo Padre. Há grandes arcebispos no Brasil que evidentemente poderiam ser cardeais, mas não se trata disso. Tradicionalmente existe um equilíbrio de número de cardeais. O número dos eleitores do colégio cardinalício não deve estar abaixo de 120 cardeais e não vai muito além desse número. O número é distribuído com muito cuidado para que haja representação dos vários países e dos continentes. Existem alguns países que têm de fato um maior número de cardeais, como os Estados Unidos e a Itália. Isso faria pensar: o Brasil, um grande país católico, poderia ter mais cardeais? Naturalmente são reflexões que podem ser feitas, mas isso não é o determinante. Na verdade, o tempo é que foi levando ao fato de na Itália, por ser também um país de antiga tradição católica, haver muitos cardeais e, no Brasil, menos. É difícil mudar a tradição. De repente, diminuir o número de cardeais da Itália para nomear mais cardeais para o Brasil poderia se tornar uma situação complicada. O tempo é que vai mudando e adequando o equilíbrio da representatividade dos cardeais.
–Como o senhor recebe esta nomeação e outras funções que tem assumido na Igreja? Não foi rápido demais?
–Dom Odilo: Isso tudo me coloca diante dos misteriosos planos de Deus. Posso dizer com toda tranqüilidade que essas nomeações não vêm da vontade da gente, mas por decisão superior do papa. Ponho-me diante dessa consideração: o que Deus quer de mim? Reconheço que tudo está indo muito rápido e, às vezes, me espanto com isso, mas procuro me colocar diante da interpelação de Deus e participar das responsabilidades da vida da Igreja.
A nomeação cardinalícia me colocou, além da responsabilidade pela arquidiocese, também diante da Igreja no mundo inteiro porque o papa é responsável pela igreja no sentido global e os cardeais o auxiliam. Passando de um plano pessoal, minha nomeação é uma forma como o Brasil é chamado a dar uma contribuição para a Igreja no mundo. De minha parte, recebi tudo com muita simplicidade e muita humildade. Isso não muda meu jeito de ser exceto o sentimento de uma maior responsabilidade e a consciência de maior empenho e seriedade em tudo o que faço e digo porque agora será sempre: o cardeal disse. Isso pesa.
–O que significa para uma diocese e para a Conferência Episcopal de um país ter um cardeal?
–Dom Odilo: O título cardinalício está ligado, certamente, a uma consideração particular na opinião pública e na Igreja. Por isso quando uma cidade tem um cardeal, isso honra a cidade, a diocese e o país, sobretudo os países de cristianismo mais recente. Existe, sim, uma consideração particular para o país, para sede, a diocese, a conferência episcopal e para a própria pessoa. Não há como negar isso. O papa ter escolhido um cardeal do Brasil entre os 23 anunciados é um fato que honra. A gente pode dizer: o papa se lembrou do Brasil, de São Paulo, da CNBB. O fato de eu ter trabalho na CNBB até esse ano e o papa, depois de poucos meses de minha nomeação para São Paulo, ter me nomeado como membro do colégio cardinalício é motivo de alegria particular.
Esta entrevista esclarecedora foi aqui reproduzida, para que cada Diácono possa divulgar estas informações às suas comunidades. A Igreja do Brasil está em festa e devemos todos participar com muita alegria deste momento!


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