terça-feira, 6 de março de 2007

AMAZÔNIA: Chão com riquezas e muitas culturas

Dando continuidade à Campanha da Fraternidade iniciada em 1964 para reflexão durante a Quaresma, a Igreja escolheu como tema deste ano “Fraternidade e Amazônia” e lema “Vida e Missão neste Chão”, colocando um conjunto de novos e sérios desafios, tais como: a situação das populações indígenas, migrações, devastação das áreas verdes, crescimento caótico dos centros urbanos, conflitos para a posse da terra, poluição das águas, problemas culturais, sociais e religiosos, proliferação das seitas, violências e degradação dos costumes. É fundamental ter presente o que está em jogo na Amazônia: a riqueza da biodiversidade, a abundância de água, a grande quantidade de terras, a fartura de madeira e o incalculável volume de minérios estratégicos no subsolo são o objeto do interesse por essa região abrigando 13 milhões de habitantes que incluem 163 povos indígenas. A população indígena no Brasil caiu de 5 milhões na época de seu “descobrimento” para somente 330 mil atualmente. Duzentos e setenta mil destes se encontram na região Amazônica brasileira. Pusemos “descobrimento” entre aspas, parafraseando o que um filho dos Yanomani disse “não digo que descobri esta terra que já estava lá, assim como não descobri o céu que estava lá”. Estes povos chegaram nesta região há 12 mil anos atrás.
A Amazônia – uma realidade complexa - abrange a maior biodiversidade do planeta em termos de fauna, flora e microorganismos. Não é à toa que existe um “olho gordo” de muitas nações! Ela sozinha é responsável pela reposição de 50% do oxigênio da Terra. Na região encontram-se 20% da água doce não congelada disponível do mundo com três mil espécies diferentes de peixes. É bom lembrar que a água hoje disponível é a mesma que existia no período da formação de nosso planeta. Não se produz mais água na natureza. A enorme bacia hidrográfica compreende 1.100 rios. Se considerarmos a Amazônia pan-americana a área atinge mais de 7 milhões de quilômetros quadrados, significando 5% da superfície terrestre, contendo 34% das reservas mundiais de florestas!
O que preocupa a todos é o rítmo de desmatamento que já alcança 20% de toda a área. São seis no Brasil os biomas - fatores que tornam possível as formas de vida: a floresta amazônica, o cerrado, a caatinga, a mata atlântica, os pampas e o pantanal. A floresta amazônica ocupa 42% do território brasileiro. Há, ainda, 3110 áreas quilombolas. Na visão antropológica, destacam os migrantes, importantes desde o final do século 19, participando dos ciclos da borracha. Neste setor, destacou-se Chico Mendes com um projeto que conjugava a preservação da floresta com a melhora na qualidade de vida dos moradores. Outra população é formada pelos ribeirinhos, comunidades das margens dos rios e lagos. Há ainda os posseiros, sem título de propriedade, responsáveis pela pecuária em áreas griladas e os colonos/ migrantes produtores de soja, cana-de-açúcar e algodão.
É, pois, dever de todos preservar os recursos naturais (hídricos, florestais, minerais e solo), administrar sua biodiversidade e clima; refletir sobre a sua estrutura e conformação urbana; controlar a atividade extrativista, o agronegócio, a mineração, a atividade biotecnológica, e acima de tudo respeitar a dignidade, a sabedoria popular e as condições de vida do amazônida, ou outro ser humano que vive nessa Região.
Em vez de gabarmos achando que nós somos civilizados e os povos da Amazônia retrógrados, vamos aprender com a mensagem profética deles para viver na simplicidade e sobriedade, no respeito à natureza e na valorização do outro. Assim, desponta um novo caminho para a humanidade.
Diácono José Antonio Jorge
data do artigo: 26/02/2006
Diác. José Antonio Jorge é mestre em Teologia, doutor em Agronomia, coordenador da Comissão Arquidiocesana de Animação Missionária, Campinas, SP, autor do Dicionário Informativo Bíblico, Teológico e Litúrgico.

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